A Força do Querer: O querer e seus limites

Foto de Bibi
Se existe algo comum a todo ser humano é que todos temos um sonho, um desejo, um querer – que diz respeito a amor, dinheiro, sucesso, identidade, poder, realização profissional. Os quereres são múltiplos e se interligam, interagem entre si nesse grande painel da convivência humana, harmonizando-se ou chocando-se uns com os outros. Movidos pelo querer, somos o tempo todo desafiados a fazer escolhas. Escolhas que nos fazem bem ou que se voltam contra nós. São questões que nos unem em um mundo em ebulição, no qual as certezas e os valores estão em pleno questionamento. Num tempo em que as distâncias são relativas e a vida de todos é arrebatada por uma enxurrada de informações, onde surgem novas linguagens, novos modelos e novos códigos.

Em ‘A Força do Querer’, escrita por Gloria Perez e com direção artística de Rogério Gomes, essas questões se traduzem através da história de diferentes personagens, seus quereres e suas escolhas. Mais uma vez, como é comum a todos os seus trabalhos, a autora vai falar de diversidade, de tolerância, das dificuldades de compreender e aceitar o que é diferente de nós. E do embate entre o querer (vontade) e os limites éticos e morais que permeiam nossas escolhas.

Caio (Rodrigo Lombardi), advogado de formação, largou a possibilidade de administrar uma das maiores empresas do Brasil, a Garcia, quando Bibi (Juliana Paes) terminou o relacionamento com ele. Sem olhar para trás, trocou o Rio de Janeiro para ir se aventurar nos Estados Unidos. Passados quase 15 anos, Caio entende que esse é o momento de voltar ao Brasil e encarar o que deixou para trás. Um homem movido por ideais éticos, que, ao conseguir crescer e ter sucesso em um alto cargo ligado à Justiça, vive um grande conflito íntimo ao ver sua vida cruzar novamente com a de Bibi, que terá, então, enveredado pela vida do crime.

Bibi não conseguiu terminar a faculdade de Direito, onde conheceu Caio, mas tem certeza de que fez a escolha certa ao abandonar este homem, que dividiu seu amor por ela com o amor pela profissão. É do tipo que ama demais, quer e só entende o amor em temperatura máxima. Conhece e casa-se com Rubinho (Emílio Dantas). Em um certo momento, o casal passa por uma grande dificuldade financeira, mas ela acredita que, se continuarem juntos, tudo vai dar certo. Custe o que custar. E manter acesa essa chama, pode custar muito a Bibi. Rubinho quer esse amor, mas também quer dinheiro e poder.
Hoje, quem tem a possibilidade de administrar a Garcia é Ruy (Fiuk), filho de Eugenio (Dan Stulbach), um dos donos do negócio. O jovem da alta sociedade carioca parece ter a vida organizada: além da posição profissional, está noivo de Cibele (Bruna Linzmeyer) – uma mulher de família rica e com futuro promissor. Mas, em uma viagem de trabalho a Parazinho – vila fictícia no Pará –, ele fica encantado por Ritinha (Isis Valverde). Ruy quer essa mulher. Mas não quer abrir mão do noivado e de seu futuro por ela… Ritinha adora a atenção de Ruy. Flertar com o carioca a faz se sentir desejada, ela adora sentir o fascínio que exerce sobre os homens, assim como as sereias. Apesar de ser noiva de Zeca (Marco Pigossi), um rapaz conhecido por sua boa índole e perdidamente apaixonado por ela, nada a impede de jogar com Ruy. Ritinha gosta de seduzir, conquistar, e isso é instintivo nela. Quer a liberdade de seguir seus impulsos.

Zeca é um tipo rude, passional, coração enorme. Nascido e criado em Parazinho, é caminhoneiro e tem no veículo não só um trabalho, mas um sonho realizado. Está feliz com sua amada e não poderia desejar que a vida fosse melhor. De que importa a opinião dos outros que vivem criticando a postura de Ritinha? O amor que sente por ela fala mais alto que tudo. Mais alto do que a razão. Mas, ao saber do envolvimento de Ritinha com Ruy, decide se mudar para Niterói, no Rio de Janeiro, e recomeçar.

Lutadora de MMA
Zeca quer reconquistar seu meio de trabalho e se libertar do fascínio que Ritinha exerce sobre ele. Lá, conhece Jeiza (Paolla Oliveira), uma mulher diferente de todas as pessoas que Zeca já conheceu. Jeiza é policial, trabalha no Batalhão de Ações com Cães e sonha em se tornar lutadora de MMA. Difícil é encontrar um parceiro que entenda e respeite seu trabalho. Jeiza quer conquistar os ringues e mostrar que mulher pode fazer o que quiser. Ao ver o sofrimento de Zeca, se aproxima dele e tenta ajudá-lo a esquecer Ritinha.

Enquanto Ruy se prepara para assumir a Garcia, Eugênio (Dan Stulbach), pai do jovem, quer sair do posto de chefia e seguir a tão sonhada carreira de advogado. É um homem capaz de esmagar o seu querer, abrir mão de suas vontades, para atender à necessidade dos outros. E um dia acha que chega. Joyce (Maria Fernanda Cândido), esposa de Eugênio, é uma mulher que cultua tudo o que diz respeito à beleza e ao feminino. Criou a filha Ivana (Carol Duarte) para vê-la como uma extensão de si própria. Vive seus maiores conflitos e dificuldades quando a menina se revela trans homem. Ivana quer resgatar sua identidade, é um homem que nasceu num corpo de mulher.
A relação de Eugênio e Joyce se desestabiliza com a chegada de Irene (Débora Falabella). É uma mulher manipuladora, que atropela tudo e qualquer coisa para fazer valer seu querer. E seu querer é Eugênio.

Conflitos
Quem divide o comando da Garcia com Eugênio é o irmão Eurico (Humberto Martins), um homem que se atormenta, se sente inseguro com a fluidez do mundo de hoje. Eurico quer o controle sobre tudo e sobre todos. Já sua esposa, Silvana (Lilia Cabral), é o oposto. Viciada em adrenalina, quer a emoção dos riscos, e mergulha de cabeça na dependência do jogo. Já Nonato (Silvero Pereira) aceita trabalhar para o intolerante Eurico para se manter. É um rapaz pobre, que vem do Interior para tentar a vida artística no Rio de Janeiro. Quer montar seu espetáculo e mostrar seu talento. Eurico se aproxima do funcionário sem nem desconfiar da vida dupla de seu protegido.

Heleninha (Totia Meirelles), irmã de Caio, é moderna, descolada, quer ver o marido crescer na Garcia e, ao mesmo tempo, escapar do raio de controle de Eurico. Dois quereres em conflito. Junqueira (João Camargo), marido de Heleninha, quer paz! Yuri (Adriano de Jesus), seu filho, quer experimentar todos os sabores. Um típico representante desse mundo novo. Viver de acordo com esses novos códigos resulta em conflito de gerações.

Quem também trabalha na Garcia é Dantas (Edson Celulari), pai de Cibele. Tudo que deseja é reconhecimento. Ele ajudou os irmãos Garcia a segurarem a empresa depois da morte precoce do patriarca da família e se sente injustiçado, acreditando que nunca lhe deram o valor que merece. Shirley (Michelle Martins), namorada de Dantas, é uma moça bonita, tipo bem popular, de bom coração. Quer ascender socialmente e não esconde isso. A ascensão de Dantas ajudaria – e muito – nesse objetivo.

As histórias desses personagens se cruzam quando a saga de cada um os leva ao limite e os faz ultrapassar horizontes, desafiar as próprias barreiras e vencer conflitos internos. A força do querer de um afeta a força do querer do outro e pode determinar os rumos inesperados desta história.

Escrita por Gloria Perez, com direção artística de Rogério Gomes, A Força do Querer se propõe a tratar dos limites éticos e morais que permeiam a vida de pessoas comuns – independente de classe social. Exibida pela Globo a partir de 03 de abril de 2017.

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